Ter uma mente serena, compassiva e relativamente amorosa implica assimilar e compreender o valor que os valores universais têm.
Se esperarmos que o mundo, pessoas e situações se apresentem de acordo com os nossos gostos e aversões e em sintonia com as nossas expectativas, a desilusão, o desapontamento, a raiva ou a tristeza estarão presentes em nós mais vezes do que desejamos. A mente estará numa agitação constante. Quando olhamos para outra pessoa sem emprestar subjetividade a esse olhar, sem o tingir com as cores das nossas preferências, o entendimento e a aceitação do outro como ele é torna-se mais fácil.
O comportamento do ser humano está condicionado pela história e experiências de vida, pelos conhecimentos e faculdades de cada um. Se olharmos para nós no passado, podemos facilmente discernir que com o conhecimento e com a experiência de vida que temos hoje, algumas coisas teriam sido feitas ou ditas de forma distinta. Isso significa que o comportamento, o nosso e o de qualquer pessoa, com as faculdades e conhecimento existentes num determinado tempo e circunstância, não podia ser diferente do que foi. Se pudesse, tê-lo-ia sido.
Olhar para o passado e compreender a nossa limitação, faz-nos acomodar com paz o nosso presente, e estender essa atitude em relação às outras pessoas. Não é possível aceitar o outro como é, sem que essa aceitação tenha passado primeiro por nós. Não temos de nos julgar pelo que fizemos ou dissemos. Se há algo que podemos fazer no presente para remediar o que quer que seja, fazemos, mas a tortura do julgamento é totalmente dispensável.
Todos nós interferimos na vida uns dos outros. Estamos interligados e isso é um facto. Somos influenciados pelos que estão mais próximos e também por todas as forças que compõe este universo. Cientes disso, a atitude mais equilibrada é a de aceitar essas influências, dançar a vida com leveza, deixar o peso da agressão, da exigência, da critica e do julgamento e agir da forma mais adequada. Somos livres para ser quem e como somos, quando oferecemos e permitimos essa mesma liberdade ao outro.
Deixo-vos com as palavras do Swami Dayananda(1):
“Estava eu num zoológico quando um casal passou por mim. Olhando para as minhas vestes cor de laranja que são tradicionais de um renunciante, o homem comentou com a sua companheira: “Olha para este!”
Eu era o único com essa roupa estranha para ser olhado. Eu tento não perturbar as pessoas, mas parece que as minhas roupas causam uma leve perturbação. Eu decidi usá-las e isso vai sem dúvida afetar outros. Se eu me sinto perturbado pelos comentários dos outros, então eu ganho tão somente a liberdade que eles me concedem.
No entanto, se eu inverter o processo, se eu der a liberdade aos outros para serem o que são, nessa medida, estou livre. Então, eu não discuto com eles. A minha liberdade é a liberdade que eu lhes dou para terem a sua opinião sobre mim. Com um sorriso eu respondi-lhes: “Há uma nova espécie no zoo!” :D
Se alguém faz um comentário, permita que o faça. Se o comentário não for verdadeiro, geralmente tenta justificar as suas ações e provar que a pessoa está errada. Seja objetivo, tente ver se existe qualquer validade na crítica que é feita. Se a pessoa tenta denegrir alguém é para a sua própria segurança, de-lhe essa liberdade e então ficará livre.
Qual é aperto que pode fazer um parafuso quando a rosca não estão lá? O mundo pode perturbá-lo apenas na medida em que permite que o mundo o perturbe. Ao mudar a sua atitude totalmente desta forma, só ganha. Praticar essa adaptação é o que chamamos de yoga sadhana (prática de yoga).
Quando olha para o céu azul, as estrelas ou os pássaros e as montanhas, não tem queixas sobre eles e está feliz. Vê as pedras no leito do rio, elas não fizeram nada para agradá-lo, no entanto, está feliz, porque as aceita como elas são, e, portanto, está satisfeito.
O rio flui à sua maneira, não o incomoda, não espera que a sua plenitude seja maior ou que flua para uma direção diferente. Na realidade, procura os lugares naturais, porque eles não invocam a pessoa descontente, a raiva, a pessoa difícil de lidar que por vezes aparece. Eles não disparam os sentimentos de exigência em si. É um com a situação, auto-complacente, sem necessidade que mundo mude para agradá-lo.
Assim, é uma pessoa satisfeita com referência a algumas coisas. E isso é o calço que tem de criar em si mesmo. Quando vai para as montanhas, as montanhas não fazem nada para o agradar. Veja o quão satisfeito pode ser e traga essa pessoa satisfeita para sustentar todas as situações e as pessoas que o tinham desagradado e a quem tinha contrariado num momento ou noutro. Olhe para si mesmo como se olhasse para a natureza.
Aceite os outros como aceita as estrelas. Peça uma mudança para si, se acha que precisa, ou uma mudança para alguém, faça o que puder para a promover, mas aceite os outros em primeiro lugar. Somente desta forma pode realmente mudar. Aceite os outros totalmente e ficará livre, e é nesse momento que descobre o amor, que é a sua natureza.
Om tat sat!
(1)Fonte: yoga.pro