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Foto do escritorBetty Dias

MAUNA - UM SILÊNCIO REVELADOR

Ruído é algo que assumimos como normal na sociedade em que vivemos. O silêncio só é observado quando vamos dormir e ainda assim, não é para todos!

Ontem, em conversa com uma pessoa que não está ligada ao yoga e que faz musculação diariamente num ginásio, veio-me à lembrança mauna. Ela referiu-me que se sentia muito incomodada por não ter um espaço de silêncio no ginásio enquanto treinava. Dizia-me ela que até já pensou em levar uns phones e ouvir música, mas que mesmo a música a incomoda. O que ela queria era treinar em silêncio. “As pessoas falam demasiado”, concluiu ela.

Existem pessoas que falam muito, de forma habitual. É o que referimos como “falar por falar”. Falam de forma desmedida, sem que exista um controlo do ponto de vista da atenção sobre o seu discurso. Essa incontinência verbal revela muitas vezes uma mente agitada e impulsiva. Uma mente sem orientação.


Se tivermos consciência que ao deixar sair uma palavra, deixamos sair uma parte do nosso prana, da nossa energia, talvez possamos conter-nos um pouco mais nas palavras. Deixar cair o queixume e não utilizar palavras que projectem imagens ou julgamentos negativos seria um bom começo. Se não temos nada de bom, verdadeiro e útil para dizer, é melhor permanecer em silêncio, evitando emoções e reações excessivas e totalmente desnecessárias que só projectam mais ruído em nós.


Crescemos sem que nos ensinassem a lidar com a mente e somos autênticas marionetes que dançam ao ritmo das tendências dela! Se ela acorda deprimida, sentimo-nos deprimidos, se ela acorda eufórica, não há quem nos ature! :D E assim vamos vivendo, ao sabor das suas luas!


Mauna é uma palavra sânscrita que significa de forma mais abreviada “silêncio", mas existem muitas variantes ligadas ao seu significado. A sua prática geralmente assume a forma de períodos de fala controlada. Esse silêncio sustentado é considerado essencial na tradição hindu.

Mauna é um processo através do qual treinamos a mente e não se resume unicamente à abstinência da fala. É profundamente transformador porque nos ajuda a encontrar uma serenidade, e mais importante, reconhecer o pano de fundo de quietude que é a nossa natureza real.


Há um silêncio intocável em nós que é mais reconhecível nos momentos que deixamos de nos agarrar à mente tagarela. É um silêncio sagrado que não depende de nada, nem da existência, nem da ausência de ruído interno ou externo.


Ramana Maharshi, um grande e reconhecido yogi, passou anos em silêncio espontaneamente sem sequer saber da prática de mauna. Ele afirmava que o silêncio era ensinamento. Ele descreveu-o como algo profundo, o estado pacífico, imóvel e silencioso do Ser, além de todas as construções de ruído.


Mauna é também uma forma importante de tapah (austeridade consciente), portanto desenvolve a força de vontade. O Swami Sivananda recomendava a prática de mauna por um ou dois anos, o que obviamente está muito distante da nossa forma de pensar atual e do nível de envolvimento que temos em sociedade, mas as questões que nos podemos colocar são: quantos momentos por dia ou por semana passamos em silêncio connosco? Existe algum momento no qual desenvolvemos uma maior consciência da mente e consequentemente, da fala?


Seria bom se pudéssemos inicialmente criar um espaço de silêncio externo para perceber o silêncio interno e deixar de alimentar histórias na mente. Apenas isso. É aqui que uma prática de meditação guiada nos pode auxiliar. Neste processo, a prática regular de meditação é muito necessária. Se tivermos persistência e regularidade e ao mesmo tempo, desprendimento, a meditação conduz-nos a uma observação profunda onde reconhecemos a nossa existência, a paz que somos, sem estarmos relacionados com as experiências do mundo, do corpo, da mente e do intelecto. E isso por si só já é tanto!

E se eu me reconheço além das experiências do corpo, da mente e do intelecto, num dado momento a questão “quem sou eu?” surgirá. Esse vichara, essa análise e auto-investigação é um passo muito importante no caminho do yogi. Não querendo mais uma teoria, conceitos ou mais experiências, ele procura pelo conhecimento que responda a essa questão. E esse é um caminho que não se percorre sozinho. Haja humildade suficiente no yogi para reconhecer essa verdade. É dito que quando o aluno está pronto, o mestre, o professor, aparece. E quanto a isso, não há dúvidas! O estudo com um professor de Vedanta (o corpo de conhecimento onde o yoga se insere) é a chave que abre de forma definitiva esse conhecimento à pessoa. Seja para encontrar uma serenidade na mente, lidar melhor consigo, com o outro e com o mundo, ou encontrar respostas à questões mais profundas, possamos encontrar um espaço e um tempo a cada dia, onde o tempo e o espaço se dissolvam, onde cada um fica consigo mesmo, como dizia o Swami Dayananda: “no seu próprio colo”, no silêncio, na plenitude, na paz que é.

Boas práticas! Namaste.

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